Giovanni d’Aniello
N.
Ap.
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Em.mo Senhor Cardeal,
Exc.mo Dom Orlando Brandes,
Ex.mo Dom Jaime Spengler,
Excelências,
Reverenda Ir. Inês,
Reverendos Superiores,
Reverendos Consagrados de vida
Monástica e Contemplativa,
Caríssimos amigos no Senhor!
1. É com
alegria que dirijo hoje estas palavras a vós, consagrados, ao término do II
Encontro Nacional de Vida Monástica e Contemplativa. Apresento a minha respeitosa
saudação ao Em.mo Cardeal João Braz de Aviz, Prefeito da Congregação para os
Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica e exprimo-Lhe
minha pessoal alegria em tê-lo entre nos, neste importante encontro.
Cumprimento
também ao Ex.mo Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Aparecida e o agradeço pela
cordialidade e amizade que sempre me demonstra.
Ao Ex.mo Dom
Jaime Spengler, Arcebispo de Porto Alegre e Presidente da Comissão Episcopal
Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada, como também à
Ver.da Irmã Inês Ribeiro, Presidente da CRB, quero não somente expressar meus
agradecimentos pelo convite, mas também minha felicitação pela iniciativa de
convocar este II encontro nacional, à sombra do tricentenário da descoberta da
imagem de N. Sra. da Conceição Aparecida nas águas do Rio Paraíba do Sul e
passados tão poucos dias do centenário da primeira aparição da Virgem de Fátima
na Cova da Iria.
A todos vocês,
queridos amigos, os votos mais sinceros de que estes dias de reflexão e oração
produzam em cada um de vocês um novo elo para ser sempre testemunhas autênticos
do amor de Deus pela humanidade.
Mesmo
imaginando que o Em.mo Cardeal Braz de Aviz já o fez, quero igualmente, em nome
do Santo Padre Francisco, que reza convosco e por vós, expressar a gratidão
pelo dom da vocação de cada um dos presentes, pois vocês são na Igreja como
estes pequenos rios que deslizam dentro das montanhas. Silenciosos, não deixam
de oferecer-nos sua água com descrição, e, desta maneira, fazem dos nossos
vales uma terra fecunda da graça de Deus. A vossa oração, o louvor a Deus e a
entrega escondida de vossas vidas é um dos mais eloqüentes testemunhos das
bênçãos que se renovam sobre a Igreja e a humanidade.
Sempre recordo
aos meus irmãos no Episcopado, que é um inestimável presente contar com homens
e mulheres que dão vida aos Mosteiros nas inúmeras Dioceses brasileiras, pois
os contemplativos nos recordam radicalmente a beleza de Deus e, por excelência,
a nossa vocação última de maravilharmo-nos com Ele para testemunhá-Lo de
diversos modos.
Representais
para todos nós o bom odor do Eterno e nos reavivais através do silêncio de
vossas casa, que estamos chamados a anunciar através de nossa vocação
específica, a presença amorosa e misericordiosa da Santíssima Trindade, que
adorais e celebrais no piedoso Sacrifício Eucarístico, no amor ao Ofício
Divino, à Lectio Divina e na solidão
de vossas celas.
2. O tema de
vosso encontro, “A alegria da consagração monástica e contemplativa”, ajuda-me a
recordar um episódio que culmina numa das maiores alegrias de que fala a Sagrada
Escritura, isto é, a viagem dos Magos. Desde já, peço-vos perdão por trazer em
pleno tempo pascal algo tão próprio do Natal: “Eles, revendo a estrela,
alegraram-se imensamente” (cf. Mt 2, 10).
Estes dias de
oração, reflexão e estudo, seguramente, vos serviram para recordar que a vossa
consagração é esta estrela, tal como foi para os Magos, um sinal e apelo de
Deus para que o ser humano não deixe de prostrar-se e participar do reino dos
céus, pois somente assim o mundo encontrará a verdadeira felicidade com
serenidade, justiça e paz, sendo esta a vossa fecundidade apostólica que o
Concílio Vaticano II reafirmou no Decreto Perfectae
caritatis, (cf. n. 8).
Entender que a
vossa entrega é esta estrela que Deus manda para guiar e indicar o que espera
dos homens, deve resultar num primeiro questionamento: como anda a minha alegria
diante desta missão? Na oração e no sacrifício escondido, podemos mensurar a
qualidade de nosso contentamento e a realização com a vocação recebida. A luz
do chamado do Senhor, se sabemos acolher com fé, faz que o sentido de nossa
vida fique claro e todas as peças, como as pedras de um mosaico divino, passam
a ocupar uma harmoniosa importância.
Vejo-vos como
aqueles que escolheram caminhar seguindo a estrela de Deus e abandonaram no “fugas mundi” os vagalumes do orgulho,
prazer, sucesso, egoísmo e dos brilhos sedutores que piscam no escuro da alma,
mas que sempre são fugazes.
3. A oração nos faz descobrir a alegria da
vida monástica e contemplativa, pois ela é a resposta do homem à procura de
Deus que tão bem nos diz S. Bento, no Prólogo de sua Regra: “e procurando o Senhor na multidão do seu
povo o seu operário”, escolhe e vem ao encontro como amigo. Por isso, Bento
XVI referiu-se aos consagrados não com um nome específico, mas com umas
palavras que definem um programa de vida: “sois
testemunhas da presença transfigurante de Deus” (cf. Bento XVI, Discurso
aos Religiosos da Diocese de Roma, 10 de dezembro de 2005).
Por outro
lado, S. Bento orienta o mestre de noviços ao receber quem bate à porta de um
Mosteiro, não lhe ressaltando algum elenco de virtudes ou condutas, mas
sublinhando como principal critério de avaliação, se verdadeiramente procura a
Deus na oração. Rezar é testemunhar a presença transfigurante de Deus! O
consagrado que cuida da vida interior descobre a alegria da vocação como
adiantamento das alegrias eternas e conclui-se feliz já nesta vida, como nos
disse o Senhor no Evangelho de S. Lucas, “Em
verdade eu vos digo, não há quem tenha deixado casa, mulher, irmãos, pais ou
filhos por causa do Reino de Deus, sem que receba muito mais neste tempo e, no mundo futuro, a vida
eterna” (cf. Lc 18, 29-30).
A vida de oração
alimenta a alegria porque vos previne de dois perigos:
- A murmuração, que é
corrosiva à contemplação e à convivência com os demais, pois é uma porta aberta
para a edificação de um coração amargurado. Toda amargura na vida monástica e
contemplativa dá-se a partir do esquecimento de que um servo de Deus opta por
uma vida feliz, mas não obrigatoriamente fácil.
- A tristeza ou acedia,
que segundo o Abade Cassiano é uma doença espiritual como uma inquietação
interior que sempre presume o defeito nas coisas ou no outro, nunca em nós
mesmos.
Enfim, aprendemos
de S. Teresa de Jesus, no Livro da Vida, ao comentar às Irmãs que “quem procura agradar a quem ama, anda
contente com tudo que o agrada”, logo a vossa alegria, que é fruto da
primazia de oração, faz com que a sociedade, tão ausente de valores sagrados,
valorize o primado de Deus. Não esqueçais que a vossa oração é cooperadora de
toda atividade evangelizadora e grande consolação para os Bispos, Sacerdotes,
Religiosos de vida ativa, especialmente, os missionários.
4. Detenho-me
sobre o sacrifício, que é o outro viés que sempre vos auxiliará na constatação
da alegria vocacional, porque o ideal que Jesus propõe é o da abnegação
amorosa, do sacrifício abraçado, a cada dia, para ir atrás do verdadeiro Amor. “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si
mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Quem quiser guardar a sua vida, a perderá; e
quem perder a sua vida por causa de mim, a encontrará” (cf. Mt 16, 24-25).
Nos Fioretti de São Francisco, é citado um
ditado italiano: “Chi non dà quello che gli
duole, non riceve quello che vuole – quem não dá o que lhe dói, não recebe o
que quer”, muitas vezes esquecido na vida esponsal com Cristo. O santo de
Assis nos mostra que o egoísmo sufoca a alegria, e a proteção excessiva do “eu”
nos leva ao esfriamento com o Tu de Deus e à obstrução da graça.
Se passais
pela tentação da preguiça ao sacrificar-se não esqueçais como sucedeu junto de
Cristo no Calvário, a cruz rejeitada afundou o mau ladrão e a cruz aceita com
humildade, com amor, salvou aquele homem que se transformou em bom ladrão. Em
que consistem os vossos sacrifícios? Em cruzes procuradas; enviadas ou
permitidas por Deus ou em cruzes fabricadas ou inventadas pelos vossos
defeitos?
A fábrica das
nossas falsas cruzes tem uma fonte que se chama amor-próprio, este é um amor
bem pequeno e de escasso valor.
Peço-vos que
acrediteis o quanto a Igreja se apóia em vossos sacrifícios e penitências, tão
necessários para o tempo hodierno. A mensagem da Virgem em Fátima deve
animar-vos a uma redescoberta do que é reparar e desagravar. Vossas casas devem
gerar santos que conhecem o poder da reparação através de uma rotina de vida
que não é exercício de repetição, porém renúncia voluntária movida por amor. É
belíssimo contemplar em vosso rosto a alegria de dar alegrias!
5. Ao afirmar
o apreço e necessidade da Igreja a respeito de vossa fidelidade, gostaria de
recordar-vos que se faz imprescindível vislumbrar a alegria de vossa
consagração a partir da doutrina da Comunhão dos Santos.
A unidade
invisível do Corpo Místico de Cristo possui múltiplas manifestações visíveis e
assim temos a certeza de que a vossa entrega é sustentada pela comunhão de bens
espirituais que existem entre os fiéis que constituem a Igreja triunfante,
purgante e militante, principalmente, no Santo Sacrifício da Missa.
Como
Representante do Romano Pontífice, expresso com particular veneração o meu
intuito de fazer-vos perceber a cercania dos fiéis católicos à vossa opção de
reluzir com valentia a dimensão totalizante da “sequela Christi” e recordo-vos o apelo do Papa Francisco em sua
recente Constituição Apostólica Vultum
Dei Quaerere, “sejam faróis, para os
vizinhos e especialmente para os distantes. Sejam tochas que acompanham a
viagem de homens e mulheres na noite escura do tempo. Sejam sentinelas da manhã
anunciando o nascer do sol” (cf. Francisco, Constituição Apostólica Vultum Dei Quaerere, 29 de junho de
2016).
Que pela
intercessão materna de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, a vida monástica e
contemplativa no Brasil ensine a todos nós o que nos falou uma grande
contemplativa no meio do mundo, a Santa Madre Teresa de Calcutá: “o que conta não é a quantidade de nossas
ações, mas a intensidade do amor que colocamos em cada uma delas”. Deus vos
abençoe e muito obrigado! Rezeis pelo Papa e por mim!
+ Giovanni d’Aniello
N.
Ap.
Aparecida, 27 de Maio de 2017
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