Vida Monástica Contemplativa

Vida Monástica Contemplativa
"A Alegria da Consagração Monástica e Contemplativa" (tema)

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Vídeo II Encontro Nacional da Vida Monástica e Contemplativa

Vídeo com os principais momentos do II Encontro Nacional da Vida Monástica e Contemplativa, realizado pela equipe do evento.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

ENTRE VOCÊS NÃO PODE SER ASSIM: O EXERCÍCIO DA AUTORIDADE NA VIDA RELIGIOSA CONTEMPLATIVA COMO SINAL PROFÉTICO PARA O MUNDO

ENTRE VOCÊS NÃO PODE SER ASSIM:
O EXERCÍCIO DA AUTORIDADE NA VIDA RELIGIOSA CONTEMPLATIVA
COMO SINAL PROFÉTICO PARA O MUNDO


+Edmilson Amador Caetano, O.Cist.
Bispo diocesano de Guarulhos


Foi-me pedido refletir com vocês um tema aparentemente simples, mas de difícil exposição. Demorei para conseguir um itinerário. Proponho-me partir de Jesus Cristo, da Palavra de Deus, passando por certas circunstâncias que marcam nosso tempo e tentando chegar a algumas pistas. Esta é uma metodologia análoga ao Documento de Aparecida (produzido há 10 anos nesta sala onde nos encontramos) e tem sido utilizada nas duas última edições das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora no Brasil, da CNBB.
           
PARTINDO DE CRISTO

Posto que o título que me foi dado para esta reflexão sugere o evangelho de Mateus 20,24-27, comecemos daí: “Ouvindo isso, os dez ficaram indignados com os dois irmãos. Mas Jesus, chamando-os disse: ‘Sabeis que os governadores das nações as dominam e os grandes as tiranizam. Entre vós não deverá ser assim. Ao contrário, aquele que quiser tornar-se grande entre vós seja aquele que serve, e o que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o vosso servo. Desse modo, o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida como resgate por muitos.”.  
Temos também o trecho paralelo de Marcos 10, 41-45: “Ouvindo isso, os dez começaram a se indignar-se contra Tiago e João. Chamando-os Jesus lhes disse: “Sabeis que aqueles que vemos governar as nações as dominam, e os seus grandes as tiranizam. Entre vós não será assim: ao contrário, aquele que dentre vós quiser ser grande, seja o vosso servidor, e aquele que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o servo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos.”
            Que confusão cria a mãe dos filhos de Zebedeu! No entanto, revela o que  está arraigado no coração humano: querer dominar o outro. Ser “deus” da vida do outro. Este espírito de competição e disputa está presente quando pensamos em quem deve exercer a autoridade. Temos que ser coerentes e reconhecer o que tantas vezes acontece na Igreja e no seio de nossas comunidades quando, por exemplo, temos eleições. Quantas vezes aflora a mesquinhez humana!
O vocábulo “autoridade” (exousía) podemos interpretá-lo de uma maneira simples: ex (a partir de) ousía (essência, substância). Jesus, tantas vezes, se diz no evangelho, fala com autoridade, não como os escribas e fariseus. Jesus fala a partir da sua essência. Jesus fala com palavras humanas; age de forma humana, pois é verdadeiramente homem. Mas é também Deus. Fala e age a partir da sua natureza divina também que é amor. Ser para o outro incondicionalmente, sem exigências de reciprocidade. Para realizar o seu plano de amor, despojou-se de sua glória (kênosis) e tomou a condição de servo. O servo não é o empregado que executa ordens. O servo realiza sua tarefa de acordo com a vontade e a mente do seu patrão. Deste modo o discípulo de Jesus exerce “autoridade” a partir da essência do seu Senhor. Não é possível ter autoridade na Igreja, sem exercê-la, não somente em nome de Cristo, mas “em” Cristo. Não é possível ser autoridade na Igreja sem ter o Espírito de Jesus Cristo. Sem esta característica a autoridade exercida é idêntica a dos escribas e fariseus.
Podemos assim concluir aqui que o final das duas citações “dar a vida em resgate por muitos” é o ápice da autoridade de Jesus e da nossa autoridade “em Jesus”.
Tomemos outros dois textos:
Mc 9, 33-37: “E chegaram a Cafarnaum. Em casa, ele lhes perguntou: ‘Sobre que discutíeis pelo caminho?’ Ficaram em silêncio, porque pelo caminho vinham discutindo sobre qual era o maior. Então ele, sentou,  chamou os doze e disse: ‘Se alguém  quiser ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos.’ Depois tomou uma criança, colocou-a no meio deles e, pegando-a nos braços, disse-lhes: Aquele que receber uma destas crianças por causa do meu nome, a mim recebe; e aquele que me recebe, não é a mim que recebe, mas sim àquele que me enviou.’
A figura da criança aqui e em outros paralelos é chave de interpretação para a atitude correta: dar importância ao que não conta. A criança exige cuidados e trabalhos. Ela ainda não “produz”. Evidentemente não se trata de fazer da autoridade algo improdutivo. Trata-se da necessidade para “ser autoridade”, passar por uma conversão. Não querer impor-se. É uma conversão transformadora. Por outro lado é também acolher o que aparentemente não conta, não traz vantagens. Até mesmo o que não tem “conserto”.
Nestes textos que temos ouvido, não é proibido querer, mas é reprovado o como se quer e para que se quer.
Lc 22,24-30: “Houve também uma discussão entre eles: qual seria o maior? Jesus lhes disse: ‘Os reis das nações as dominam, e os que as tiranizam são chamados benfeitores. Quanto a vós, não deverá ser assim; pelo contrário, o maior dentre vós torne-se como o mais jovem, e o que governa como aquele que serve. Pois qual é o maior: o que está à mesa, ou aquele que serve? Não é aquele que está à mesa? Eu, porém, estou nomeio de vós como aquele que serve.
Vós sois os que permanecestes constantemente comigo em minhas tentações; também eu disponho para vós o Reino, como o meu Pai o dispôs para mim, a fim de que comais e bebais  à minha mesa em meu Reino, e vos senteis em tronos para julgar as doze tribos de Israel.”
O que Jesus diz aos apóstolos/discípulos nestes textos, evidentemente, é válido para todos os cristãos. O interessante, entretanto, é que estes ditos não são dirigidos às multidões, como ocorre em outros episódios. Estes ditos são colocados pelas fontes evangélicas direcionados aos apóstolos. Àqueles que são as colunas da comunidade e pastores do povo.
Emblemática também é a conclusão da cena do lava-pés do evangelho de João, onde  anteriormente o diálogo com Pedro tornou-se revelador: “Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu o sou. Se, portanto, eu, o Mestre e o Senhor, vos lavei os pés, também deveis lavar-vos os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais.”  (Jo 13,14-15). Pedro não aceita o modo de Jesus ser o primeiro. No texto joanino ele fará um caminho do capítulo 13 até o 21 para realmente se converter e tornar-se como o discípulo que Jesus amava. Pedro não aceita o gesto de Jesus depor o manto e cingir-se com uma toalha para lavar os pés dos discípulos. Na realidade, não é que não aceite o gesto em si. Não aceita que o primeiro ( o que exerce a autoridade sobre os demais) tenha que fazer as coisas assim. Pedro é o primeiro do colégio apostólico. Ele tem dificuldades de aceitar que a sua condição vicária tenha que ser exercida com este espírito. Nos sinóticos Jesus chama Pedro de Satanás, pois não quer pensar e agir segundo Deus. É ainda pedra de tropeço, pois quer atrapalhar a ação de Jesus. Ainda, neste grupo de capítulos de João, Pedro usará a violência para defender Jesus, cortando a orelha do servo do sumo sacerdote. Buscará o caminho da mentira, traindo Jesus por três vezes. Correrá até túmulo vazio e verá as coisas como estão, diferentemente do discípulo que Jesus amava, que viu e acreditou. A conversão de Pedro se dará na beira do mar, após a ressurreição, na pesca milagrosa, quando ele obedece à Palavra de Jesus e come dos pães e peixes que Jesus lhe oferecer. Nesta beira do mar acolherá a palavra de Jesus que lhe diz que dará glória a Deus, deixando-se cingir por outro indo para onde não quer ir.
Como último texto bíblico deste nosso “partir” cito um escrito paulino, talvez um dos mais antigos do Apóstolo: “Uma vez que Deus nos achou dignos de confiar-nos o Evangelho, falamos não para agradar aos homens, mas, sim, a Deus, que perscruta o nosso coração. Eu não me apresentei com adulações como sabeis; nem com secreta ganância, Deus é testemunha! Tampouco procuramos o elogio dos homens, quer vosso, quer de outrem, ainda que nós, na qualidade apóstolo de Cristo, pudéssemos fazer valer a nossa autoridade. Pelo contrario, apresentamo-nos no meio de vós cheios de bondade, como uma mãe  que acaricia os filhinhos. Tanto bem vos queríamos que desejávamos dar-vos não somente o Evangelho de Deus, mas até a própria vida, de tanto amor que vos tínhamos. Ainda vos lembrais, meus irmãos, dos nossos trabalhos e fadigas. Trabalhamos de noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós. Foi assim que pregamos o Evangelho de Deus.”  (1 Ts 2.4-10)
Paulo tem consciência da sua autoridade (exousía), como algo que não vem dele, mas do qual procura ser fiel servidor: agrada a Deus e não aos homens; procura não ser arrogante e buscar vantagens para si; não procura fazer coisas para ter o afeto das pessoas que lhe são confiadas. Por outro lado, o que parece rispidez é comparado ao amor de mãe: ternura e doação total. Não há contradição em colocar na verdade do Evangelho, ainda que possa doer ao outro, e amor verdadeiro.

MARCAS DO NOSSO TEMPO

A vida monástica e contemplativa é chamada a ser profética nesta geração, com toda a sua tradição e testemunho. Se autoridade é serviço e serviço se presta ao outro, é neste momento com suas marcas e apesar delas, que se deve servir.
Quero reportar aqui, simplesmente, alguns textos das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora no Brasil, (DGAE) 2015-2019, da CNBB. Creio que seja importante também para a vida monástica e contemplativa, ainda que esta vida se desenvolva, principalmente dentro dos claustros e muros dos nossos mosteiros, com toda sua fecundidade apostólica.
Na mesma linha de reflexão do Documento de Aparecida, as DGAE falam de “mudança de época”.  Muitas coisas enriquecedoras aparecem, sem dúvida. Creio, no entanto, que para nossa reflexão seja de capital importância o que marca negativamente. “Vivemos uma época de transformações profundas. Não se trata apenas de uma ‘época de mudanças’, mas de uma mudança de época. (...) Mudanças de época, de fato, afetam os critérios de compreensão, os valores mais profundos, a partir dos quais se afirmam identidades e se estabelecem ações e relações. Além disso, constata-se o aumento progressivo do relativismo, a ausência de referências sólidas, o excesso de informações, a superficialidade, o desejo a qualquer custo de conforto e facilidades, a aceleração do tempo, trazendo desafios existenciais, produzindo incertezas, precariedade, insegurança, inquietação.” (DGAE 19.21)
Creio que neste pouco tempo de exposição que temos, é bom salientar alguns aspectos que, penso, atingem mais concretamente nossas comunidades monásticas e contemplativas.
·         Individualismo que traz consigo a dificuldade da vida em comunidade. Aqui pensa-se em si em primeiro, segundo e terceiro lugar. O egoísmo pode ser grande inimigo em nossas comunidades.
·         Relativismo que faz o ético e moral ser o ‘bom’ e não o ‘bem’, portanto é sempre o subjetivo que comanda. O relativismo leva ao individualismo e vice-versa.
·         Fundamentalismo. Ainda que pareça contraditório com o que foi dito acima, vivemos dentro de um fundamentalismo. Talvez a insegurança gerada por tantas características da mudança época, o fundamentalismo, em vários aspectos, principalmente o legalista, é visto como tábua de salvação. Muitas vezes em nossas comunidades para resolver situações apela-se ao “sempre foi assim”, a interpretação literal e legalista da Regra e das sadias tradições de nossas Ordens e Congregações.
Estas três características mencionadas acima podem fazer cada um de nós refletir sobre tantas situações que vivemos em nossas comunidades e até mesmo na acolhida dos nossos jovens vocacionados e vocacionadas.

ATITUDES PROFÉTICAS

 Esta reflexão partiu de uma citação do evangelho de Mateus. As comunidades cristãs  que estão como pano de fundo do evangelho de Mateus, são comunidades formadas por judeus-cristãos que experimentaram a expulsão dos ambientes celebrativos e culturais da tradição judaica. Por outro lado, experimentaram a destruição do templo de Jerusalém e toda opressão inclemente do Império Romano. Neste período o judaísmo é reassumido por grande parte de escribas e fariseus que radicalizam a separação dos pagãos e os cristãos (mesmo sendo de origem judaica) são considerados traidores e hereges. Estas comunidades são animadas pelos ensinamentos de Jesus a darem uma resposta como que alternativa a esta sociedade e cultura que se impõem. Antes de ver a missão da comunidade tendo como ponto de partida a autoridade, é preciso que a própria comunidade tenha consciência da sua existência e missão.
O capítulo 18 do evangelho de Mateus apresenta um retrato de atitudes importantes para a comunidade cristã: converter-se, tornar-se como criança; ser radical no discipulado para não escandalizar; salvar o irmão que se perde; perdoar sempre.  Esta comunidade se apresenta assim, como a comunidade do “Pai que está no céu”:
v. 10: “os seus anjos veem constantemente a face de meu Pai que está nos céus”
v.14: “ não é da vontade do vosso Pai que está nos céu, que um destes pequeninos se perca.’
v. 19: “será concedido por meu Pai que está nos céus”
v. 35: “Eis como o meu Pai celeste agirá convosco...”
O individualismo uma das marcas da mudança de época, pode acarretar o autoritarismo/legalismo/fundamentalismo. Esta mentalidade reflete também em nossas comunidades contemplativas ( e em todas as comunidades cristãs). Parece difícil lidar com a diversidade. É preferível resolver as coisas dando ordens. A Congregação para os Institutos de vida consagrada e as sociedades de vida apostólica,  publicou em 2008 uma Instrução com o título “Faciem tuam, Domine, requiram’  sobre o serviço da autoridade e a obediência.  A obediência é suscitada por uma espiritualidade de comunhão, não em função da força da autoridade constituída.
Primeiramente, a pessoa constituída em autoridade deve se revestir do espírito evangélico da autoridade. “Embora assumir as responsabilidades próprias da autoridade possa vir a aparecer hoje como um fardo particularmente pesado, e requeira a humildade do fazer-se servo ou serva dos demais, sempre é bom, todavia, recordar as palavras severas que o Senhor Jesus dirige àqueles que sentem a tentação de revestir de prestígio mundano a sua autoridade: ‘Quem quiser ser o primeiro entre vós, seja o vosso servo.. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mt 20,27-28).
Quem, no desempenho do próprio ofício, procura um meio para destacar-se ou auto-afirmar, para fazer-se servir ou para submeter os demais, coloca-se claramente fora do modelo evangélico de autoridade. (...) A obediência, mesmo nas melhores condições, não é fácil; mas se vê facilitada quando a pessoa consagrada constata que a autoridade se coloca a serviço da fraternidade e da missão, com humildade e empenho: uma autoridade que, apesar de todos os limites humanos, procura representar no seu agir gestos e sentimentos do bom Pastor. (Faciem tuam, 21)
 Em segundo lugar, é preciso atenção a coisas peculiares do nosso tempo. Algo que marque presença.  Tenho para comigo que um dos escritos mais proféticos para a Igreja, como um todo, de São João Paulo II é a Carta Apostólica Novo Millennio ineunte. Após toda a preparação para o novo milênio e a celebração do jubileu com tantos pedidos de perdão e reconciliação, o que fazer? Como deve ser a Igreja? Que espiritualidade buscar? A resposta foi: uma espiritualidade de comunhão. “Fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão: eis o grande desafio que nos espera no milênio que começa, se quisermos ser fiéis  ao desígnio de Deus e corresponder às expectativas mais profundas do mundo.” (NMI 43) 
  Sem dúvida, um sinal que distingue na Igreja e também culturalmente a vida monástica e contemplativa das nossas comunidades é a clausura. Seja qual for o tipo ou o “grau”. Acredito, porém, que possa soar como heroico para uns, algo inatingível para outros e para outros tantos ainda, um despropósito em nossos dias. Seguramente pessoas que não entendem o seu significado e importância.  Pensando, porém, na vida contemplativa como sinal profético para o mundo, é a vida da comunidade (comunhão, alegria, fraternidade, comunhão de bens etc) que exerce com potência a sua missão em nossos dias. Aqui, então, é fundamental a missão da autoridade que, além de revestir-se do espírito evangélico deve gerar a espiritualidade de comunhão que, de modo algum deixa de ser evangélica. “O caminho de santidade converte-se assim em percurso que toda a comunidade percorre junta; não apenas caminho de indivíduo, mas sempre mais uma experiência comunitária: no acolhimento recíproco na partilha dos dons  sobretudo do dom do amor, do perdão e da correção fraterna; na busca comum da vontade do Senhor, rico de graça e de misericórdia; na disponibilidade em fazer-se cada um responsável pelo caminho do outro.
No hodierno clima cultural, a santidade comunitária é testemunho convincente, talvez ainda mais que a individual: ela manifesta o perene valor da unidade, dom a nós deixado pelo Senhor Jesus. “ (Faciem tuam, 19)
Aqui a autoridade tem que vivenciar um ministério tão especial e carismático: o da escuta. É preciso escutar o outro para discernir a vontade de Deus. Sem dúvida, é mais fácil dar ordens dizendo “está escrito”, “está na lei”. Determinar  coisas  ouvindo os outros é mais difícil e pode dar a impressão que a autoridade é manipulável. “O discernimento comunitário não substitui a natureza nem a função da autoridade, a quem cabe a decisão final; todavia, a autoridade não pode ignorar que a comunidade é o lugar privilegiado para reconhecer e acolher a vontade de Deus(...)Deve-se observar, finalmente, que uma comunidade não pode viver em estado permanente de discernimento. Depois do tempo de discernimento, vem o tempo da obediência, isto é, da execução de quanto foi decidido: em ambos os tempos, é mister que se viva com espírito obediente.” (Faciem tuam 20).
 Tanto “Faciem tuam”, como são João Paulo II ao falarem da espiritualidade de comunhão como presença profética, não falam como se fosse uma novidade, mas retomar uma sabedoria antiga, própria da Tradição da Igreja: “Com tal finalidade, é preciso assumir aquela antiga sabedoria que, sem prejudicar em nada o papel categorizado dos pastores, procurava incentivá-los à mais ampla escuta de todo o povo de Deus. É significativo o que São bento lembra ao abade do mosteiro: ‘É frequente o Senhor inspirar a  um mais jovem um parecer melhor.’ (RB 3) E S. Paulino de Nola, exorta: “dependemos dos lábios de todos os fiéis, porque, em cada fiel, sopra o Espírito de Deus.”(NMI 45).  “O exercício da autoridade implica que ela ouça de boa vontade as pessoas que o Senhor lhe confiou. São Bento insiste: ‘O abade convoque toda a comunidade... todos sejam chamados a conselho... muitas vezes o Senhor revela ao mais moço o que é melhor.”(RB3)(Faciem tuam, 20). A Instrução ainda, dentro deste âmbito da espiritualidade de comunhão cita  os capítulos 71 e 72 de regra beneditina, bem como a Regra Menor de São Basílio.

O SUCESSO DA AUTORIDADE DE JESUS

Não existe receita para o ‘sucesso’ do exercício da autoridade Jesus Cristo. Não, pelo menos, quando pensamos em sucesso humano. Temos estradas e caminhos a percorrer. Os resultados, muitas vezes, não os vemos. Aquilo que deve nos dar certeza e alegria é que agimos tendo em nós os mesmos sentimentos de Jesus.
No evangelho de João Jesus realizou muitos “sinais” que caminham num crescente  para indicar que Ele recria a humanidade no poder da sua ressurreição. O último dos ‘sinais’ é a ressurreição de Lázaro que causa grande fama humana a Jesus, a ponto de até os gregos desejarem vê-lo. Talvez para os discípulos tenha sido um momento de dizer: “ Agora sim, tudo vai dar certo. Finalmente a sua autoridade foi reconhecida.” No entanto, a resposta de Jesus a Filipe e André, não foi a esperada: “É chegada a hora em que o será glorificado o Filho do Homem. Em verdade, em verdade, vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer, produzirá muito fruto. Quem ama sua vida a perde e quem odeia a sua vida neste mundo guarda-la-á para a vida eterna....Minha alma agora está conturbada. Que  direi? Pai, salva-me desta hora? Mas foi precisamente para isso que eu vim. Pai, glorifica o teu nome.” (Jo 12, 23-25.27-28)
A autoridade em nossas comunidades contemplativas e monásticas será grande sinal profético para os nossos dias, em última instância, quando depois de tudo (serviço, acolhida, escuta, espiritualidade de comunhão), ainda restar a missão de ser o grão de trigo que cai na terra e morre e produz frutos para a vida eterna.